sexta-feira, julho 21, 2006

Uma Expressão Actual do Simbolismo Fálico (II)

Tendo recebido um feedback predominantemente positivo do post que precede este homólogo decidi aprofundar a reflexão e ponderar novas questões. Se, com efeito, o automóvel é, para os homens, um atributo fálico e uma representação de virilidade, põe-se inevitavelmente a contenda da expressão psicológica deste simbolismo no acto de condução.
Sendo a condução um processo complexo que compreende a manipulação do automóvel, poderá ela ser, simbolicamente, uma expressão da manipulação fálica? Uma representação do acto sexual?
Na minha óptica existe um investimento notório do acto de condução que se revela por meio da dualidade pulsional: as pulsões sexuais e agressivas impregnam a condução de significado que se manifesta na atitude do condutor. Parece-me bem possível que o estilo de condução reflicta, em última análise, a representação de virilidade e potência que o homem tem si próprio.
A agressividade e a ostentação de alguns condutores torna-se, assim, interpretável. Será o jogo pulsional entre Eros e Thanathos, bem como a representação fálica de si mesmo, que colorirá o acto de condução de posições activa/passiva, mais ou menos erotizadas. A condução agressiva, por exemplo, poderá relevar de uma posição activa/sádica, numa função narcisicamente reparadora. Em todos os casos, acredito que o homem impõe na forma como conduz o que desejaria impor ao seu falo – na velocidade extrema, uma expressão do Id (pela falha da pára-excitação); na moderação exagerada, uma instância superegóica dominante.
Sem dúvida que a actividade pulsional não surge sempre crua, exceptuando-se as personalidades psicóticas e borderline. Na grande maioria das pessoas esta encontra-se modulada e esfriada pela pára-excitação pré-consciente (em referência à 1.ª tópica). Não obstante, acredito que a situação de condução representa um momento em que são activadas, simultaneamente, a pressão pulsional e os mecanismos que a combatem, surgindo assim a atitude de condução sob a formação de compromisso entre ambas, demonstrando a capacidade de integração pulsional em forma de jogo.
Por isto, e a meu ver, o acto de condução não simboliza propriamente a relação sexual, mas antes a percepção que o indivíduo tem da sua potência fálica, sempre dependente da dinâmica interna e inter-sistémica.

5 comentários:

Filipa disse...

Parece-me que a condução nestes homens não tem uma representação de manipulação fálica, mas mais uma representação do acto sexual que, obviamente, está relacionado com a representação que o homem tem da sua potência sexual.
A meu ver isto está intrinsecamente relacionado com o que foi discutido no anterior post da temática (parte I). Assim, parece-me que o homem que faz deslocação da representação fálica para um sobre investimento no seu estimado carro, vai ter o mesmo comportamento durante o acto sexual e, sobretudo, em 'convívios masculinos de adoração aos seus pénis', em que passam o tempo a pavonear as suas experiências. Por norma, quanto mais se pavoneiam, mais falham na cama e isto, mais uma vez, encontra-se relacionado com um sobre investimento para colmatar a sua falha narcísica (tal como já referi anteriormente).
Coimbra de Matos diz muitas vezes que 'Quem tem galões não tem colhões', o que caricatura muito bem este meu ponto de vista. Só quem não os teus é que precisa de mostrar aos outros que os teus!!

Ricardo Pina disse...

Sem dúvida que a ostentação advém de um sentimento de falta, e isto parece-me verdade para muitas coisas na vida. Apenas sente necessidade em mostrar aquele que sente que, afinal, não possui o que mostra. Parece então plausível que o homem que ostenta a sua potência sexual luta contra precisamente contra o (des)conhecimento da sua impotência ou inabilidade. E, como disse, isto parece-me verdade em várias ocasiões, como por exemplo, nas relações amorosas em que o homem ostenta a sua companheira aos outros no sentido de dar a conhecer o seu «sucesso» (no sentido darwiniano do termo). Contudo, aqui põe-se outra questão, uma vez que em muitos destes casos parece-me que a ostentação é mais narcísica (usando a companheira como uma «extensão narcísica», no sentido de McWilliams) do que propriamente fálica, e como tal mais primitiva.
Ainda assim, e não obstante a natureza da problemática (fálica, narcísica ou ambas, como em Reich), a ostentação parece surgir pela sua necessidade.

Filipa disse...

Sim, parece que estamos em sintonia teórica! Ou pelo menos falamos a mesma linguagem!
Com o teu comment fiquei a saber algo que desconhecia! Pelos vistos, nos 'convívios masculinos de adoração ao pénis', para além de se pavonearem também 'ostentam a sua companheira aos outros'!! Pensava que estes machos só se gabavam de experiências sexuais, mas pelos vistos também falam das performances do casal!!
Obrigada pela preciosa informação! Vou tê-la em conta para futuro!! ;)

Ricardo Pina disse...

Gostei da tua expressão;)... «convívios masculinos de adoração ao pénis»...:D!
Sim, Filipa, estou convencido de que muitos homens utilizam as suas companheiras como extensões narcísicas, e não propriamente como expressões de potência ou habilidade sexual. Uma mulher bonita e bem torneada consegue uma imagem de potência sexual mas também narcísica. Em homens com personalidades narcísicas nada como uma mulher jovem e bonita para lhes realçar (ou relançar) o sentimento de beleza e juventude neles mesmos!
Mas também penso que isso acontece nas mulheres que procuram homens com profissões de status quo e com uma alta posição social. Aliás, penso que por questões sócioculturais as mulheres estão mais sujeitas à necessidade de afirmação narcísica do que os homens, normalmente mais movidos pelo seu falo imaginário.

Filipa disse...

Claro! E não achas que isto vai de encontro à ideia que expus num dos comments do post I da mesma temática, sobre a expressão de uma falha narcísica na mulher? ;)
Vá, toca a comentar o desafio que me lançaste! :p