Um dos grandes ensinamentos que se retira da literatura freudiana é o de que muitos conceitos reenviam não só ao que são, mas também, e sobretudo, àquilo que representam. Ou melhor, que esses conceitos podem representar pelo menos duas significações, em que uma delas se substitui à outra, mascarando-a e exprimindo-a ao mesmo tempo. Refiro-me, claro está, à noção de «simbolismo» freudiano, cujos pontos fundamentais podem ser encontrados no «Vocabulário da Psicanálise», de Laplanche & Pontalis.
A psicanálise descobriu essa propriedade simbólica por meio de várias vias: (1) a interpretação dos sonhos; (2) o chiste ou humor popular; (3) a clínica psicanalítica. Os símbolos por ela descobertos são muito numerosos, mas o campo do simbolizado é restrito: corpo, pais e consanguíneos, nascimento, morte, nudez e, sobretudo, sexualidade. Em contraste, as formulações que irei aqui apresentar não passam de um mero exercício teórico, inspirado somente por uma reflexão, e cuja originalidade desconheço. Apesar de nunca ter lido nada sobre o assunto, não posso assumir que nada tenha sido escrito sobre ele.
Pretendo aqui lançar uma hipótese que postula a existência de uma atribuição simbólica do automóvel, enquanto símbolo fálico. Esta hipótese tem como fundamento o facto de que o automóvel é um conceito carregado de atributos de potência, afirmação, volume e vigor. Para isto penso que muito contribuem as medidas empregues para mensurar a qualidade do motor do automóvel: a cilindrada, medida em cm3, e que portanto apela às noções de tamanho e de volume; e os cavalos, animais carregados de simbolismo viril.
Uma das razões que me chamou à atenção para este facto foi a conhecida estima que o sexo masculino nutre pelos automóveis. Genericamente, através dos media, os homens devoram as últimas novidades de engenharia automóvel, dos modelos mais recentes e competitivos, dos motores de última geração. É também do conhecimento popular a relação íntima que o homem tem com o seu próprio automóvel. Note-se que, evidentemente, isto aplica-se de uma forma generalista, pois nem todos os homens têm especial afeição por automóveis.
Penso que (e volto a ressalvar, de uma forma geral) o automóvel é, para os homens, um atributo fálico, uma representação de virilidade que assume especial importância no momento da condução, na qual, aliás, encontro vários pontos de expressão do acto sexual (deixarei o aprofundamento desta analogia para uma próxima ocasião).
Exemplificando, não são incomuns as várias ocasiões em que se assiste a uma situação humorística desencadeada precisamente por essa atribuição fálica. É reconhecido o orgulho que os homens têm pelo seu pénis e muitas vezes esse brio é exposto, de forma caricata, por apelidos do pénis. De facto, o homem ostenta o orgulho que sente pelo seu pénis apelidando-o, mais ou menos secretamente, de vários conceitos que conservam competência viril. Um desses conceitos trata-se, precisamente, do conceito «automóvel», expresso por meio de modelos conhecidos e popularizados pela sua potência ou velocidade. Torna-se claro que, aqui, o homem utiliza simbolicamente o conceito de «automóvel» como forma de afirmação viril. Esse conceito assume, como tal, uma dupla significação, representando-se simultaneamente a si próprio e ao pénis. É precisamente esta característica que me leva a considerar a função simbólica do conceito (e não o termo) «automóvel».
Volto a referir que estas afirmações possuem um carácter meramente hipotético, decorrentes de uma ponderação teórica, e como tal perfeitamente discutíveis. Não obstante, reconheço-lhes a lógica suficiente para, primeiro, as expor aqui e, segundo, porfiar a minha reflexão.
A psicanálise descobriu essa propriedade simbólica por meio de várias vias: (1) a interpretação dos sonhos; (2) o chiste ou humor popular; (3) a clínica psicanalítica. Os símbolos por ela descobertos são muito numerosos, mas o campo do simbolizado é restrito: corpo, pais e consanguíneos, nascimento, morte, nudez e, sobretudo, sexualidade. Em contraste, as formulações que irei aqui apresentar não passam de um mero exercício teórico, inspirado somente por uma reflexão, e cuja originalidade desconheço. Apesar de nunca ter lido nada sobre o assunto, não posso assumir que nada tenha sido escrito sobre ele.
Pretendo aqui lançar uma hipótese que postula a existência de uma atribuição simbólica do automóvel, enquanto símbolo fálico. Esta hipótese tem como fundamento o facto de que o automóvel é um conceito carregado de atributos de potência, afirmação, volume e vigor. Para isto penso que muito contribuem as medidas empregues para mensurar a qualidade do motor do automóvel: a cilindrada, medida em cm3, e que portanto apela às noções de tamanho e de volume; e os cavalos, animais carregados de simbolismo viril.
Uma das razões que me chamou à atenção para este facto foi a conhecida estima que o sexo masculino nutre pelos automóveis. Genericamente, através dos media, os homens devoram as últimas novidades de engenharia automóvel, dos modelos mais recentes e competitivos, dos motores de última geração. É também do conhecimento popular a relação íntima que o homem tem com o seu próprio automóvel. Note-se que, evidentemente, isto aplica-se de uma forma generalista, pois nem todos os homens têm especial afeição por automóveis.
Penso que (e volto a ressalvar, de uma forma geral) o automóvel é, para os homens, um atributo fálico, uma representação de virilidade que assume especial importância no momento da condução, na qual, aliás, encontro vários pontos de expressão do acto sexual (deixarei o aprofundamento desta analogia para uma próxima ocasião).
Exemplificando, não são incomuns as várias ocasiões em que se assiste a uma situação humorística desencadeada precisamente por essa atribuição fálica. É reconhecido o orgulho que os homens têm pelo seu pénis e muitas vezes esse brio é exposto, de forma caricata, por apelidos do pénis. De facto, o homem ostenta o orgulho que sente pelo seu pénis apelidando-o, mais ou menos secretamente, de vários conceitos que conservam competência viril. Um desses conceitos trata-se, precisamente, do conceito «automóvel», expresso por meio de modelos conhecidos e popularizados pela sua potência ou velocidade. Torna-se claro que, aqui, o homem utiliza simbolicamente o conceito de «automóvel» como forma de afirmação viril. Esse conceito assume, como tal, uma dupla significação, representando-se simultaneamente a si próprio e ao pénis. É precisamente esta característica que me leva a considerar a função simbólica do conceito (e não o termo) «automóvel».
Volto a referir que estas afirmações possuem um carácter meramente hipotético, decorrentes de uma ponderação teórica, e como tal perfeitamente discutíveis. Não obstante, reconheço-lhes a lógica suficiente para, primeiro, as expor aqui e, segundo, porfiar a minha reflexão.
7 comentários:
Não consegui conter um sorriso nos lábios enquanto lia esta reflexão! Já ouvi estas teorizações da boca de vários professores Psicanalistas, nomeadamente de Coimbra de Matos que diz que o carro é a extensão do falo do homem (mas dito com linguagem grosseira típica de psicanalista nortenho!!), ou de João trincão que diz que 'A potência do homem é inversamente proporcional à potência do seu carro'. Daqui podemos tirar que quanto menos 'potência' o homem sente que tem, maior é a necessidade de ter um carro que mostre potência, de forma a 'camuflar' a sua falha narcísica.
Isso é uma grande surpresa! Como disse, nunca tinha lido (e é tb verdade que nunca tinha ouvido) nada acerca deste assunto. O que dizes mostra-me que a minha impressão não é, afinal, de todo incorrecta. Pelo menos é partilhada!
A frase de João Trincão faz todo o sentido neste âmbito, não achas? Então o carro é, de facto, libidinalmente investido como elemento substitutivol, como representação fálica. Onde nos levará um aprofundamento destas noções?
Sim, como vês a tua teoria não me foi assim tão estranha ou vista como pouco ortodoxa! Trata-se de um assunto já falado por vários psicanalistas, não sei é se há alguma coisa publicada. Por curiosidade, posso avariguar se alguma vez Coimbra de Matos escreveu sobre isso.
Penso que um aprofundamento desta questão tipicamente masculina, particularizando a um caso específico individual, leva-nos a compreender como foi feito o (des)investimento narcísico no desenvolvimento infantil do sujeito e como isso se reflecte no seu narcisismo enquanto adulto. Generalizando a um grupo masculino alargado, podemos compreender como esta questão tão arcaica e individual da falha narcísica se torna tão vulgar e repetida, que leva a que se reflita em termos sociais e até culturais.
Em termos sociais fica muito bem um homem gostar de carros!! E se não gosta, algo se pode passar de errado com esse homem, podendo mesmo ser rotulado, visto não ter um comportamento de 'macho'!!
Sem dúvida, Filipa. E agora para reflectir... como será nas mulheres;)?
Juro que ía fazer esse desafio!! :)
É mais matéria para um mega-post do que para um comment!! ;)Vou tentar resumir o meu ponto de vista!
Penso que na mulher não há propriamente um objecto simbólico, há sim uma atitude que leva a um comportamento, muitas vezes exagerado. Aqui a expressão de uma falha narcísica na mulher pode muito bem reflectir-se no investimento que esta faz na sua aparência física. Uma necessidade muito grande de produção da sua imagem, pode estar relacionada com o desinvestimento narcísico no desenvolvimento infantil, que originou uma ferida narcísica. Parece-me que há aqui um conflito notável entre o Ego Ideal com o Ego Real, que leva a uma necessidade crescente de melhoramento da auto-imagem, intrinsecamente relacionado, obviamente, com a auto-estima.
Mas, não nos podemos esquecer que, havendo este comportamento tão frequente num grupo alargado feminino, significa que há um factor social e cultural por detrás. Se a sociedade estipula padrões de estética e idealiza uma imagem de feminina perfeita (quase ao exagero das medidas 86-60-86), a mulher vai-se moldar de forma a não ser descriminada ou rotulada.
Bem, vou ter de baixar o tom uns furos abaixo para dizer que a minha gaita é bem mais bonita e confortável do que o meu carro. O bólide é uma reles sombra do meu falo. E quando falo em falo quero dizer mesmo falo. Boa teorização, mas falta a prática de estacionamento do carro nessa vagina que é a garagem. E já agora, nos formatos fálicos das manetes, travão-de-mão e afins.
Prefiro o meu sardão pela seguinte ordem de razões, a saber:
a) o combustível é mais barato;
b) esfrega-se bem à mão
c) não necessita de uma mudança de óleo aos 15mil
d) tem mais mudanças e um melhor andamento
e) estaciono-a em qualquer lado desde que a garagem esteja nos 37ºC
f) nao preciso de mudar pneus
«Assim falava Mutatis»;)... Um abraço!
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