Desde a sua criação em 1921 pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach na monografia «Psychodyagnostik» que o Teste de Rorschach tem vindo a ser agraciado por uns e reprovado por outros. No extremo, uns e outros optaram por um cultismo exacerbado ou por um réprobo inabalável, ambas as posições pouco cientes das reais possibilidades de avaliação desta prova tão conhecida e popularizada.
Claro que no meio desta «rorschachfilia» e «rorschachfobia» encontram-se aqueles cuja posição é intermédia, podendo cair mais para um lado ou para o outro. A minha posição enquadra-se nesta linha média, mas no quadrante mais próximo do lado «fílico». Sem dúvida, sou um apreciador das grandes qualidades de poder analítico do Teste de Rorschach.
O seu princípio básico é quase evidente, de tão simples. O sujeito reestrutura as manchas seguindo os mesmos mecanismos com os quais estrutura a realidade. E com realidade pretendo designar todo o aparato de cognições que constituem o seu conhecimento: da realidade interna à realidade externa; do conhecimento de si ao conhecimento da alteridade. Embora a minha interpretação do Rorschach seja profundamente psicanalítica, penso que o paradigma da epistemologia cognitiva se adapta com natural perfeição a este caso, quando postula que o conhecimento é uma permanente construção. Assim, pretende-se que o sujeito construa a realidade das manchas com que se depara, num verdadeiro trabalho de pensamento cuja análise irá permitir perceber como, de resto, o sujeito estrutura a sua realidade lata. O Rorschach assume-se, então, como uma amostra de construção do conhecimento que, aliás, conserva os princípios de construção utilizados. Resta ao psicólogo descobrir e interpretar esses princípios para assim compreender a sua construção, assim como um geólogo infere os movimentos internos da litosfera ao analisar um estrato.
É legítimo colocar aqui uma questão: como se podem induzir com segurança os mecanismos de construção do conhecimento de uma entidade psicológica através da análise, por muito profunda que seja, de uma situação tão breve e insular? A isto também respondo: apesar de insólita, a situação-Rorschach é extremamente significante, pela simples razão de que se trata de uma fatia de vida, ou melhor, de uma fatia de construção. E é nesse estatuto que se encontra, por decifrar, o código de construção do indivíduo.
E como se devem descodificar esses princípios? Antes disso, quais são os princípios que regem o aparecimento da resposta-Rorschach? E como identificá-los? É aqui que termina a minha alusão à epistemologia cognitiva e entramos no âmbito da teoria psicanalítica. Porque estou convencido que uma actividade de construção como a da situação-Rorschach, onde a criatividade e a imaginação desempenham um papel fundamental, põe em jogo toda a vivência do indivíduo, integrando simultaneamente as dimensões cognitiva, afectiva e comportamental. Porque encontro na teoria psicanalítica uma riqueza de conteúdos e feixes interpretativos que não reconheço em nenhuma outra. E porque acredito nela.
Claro que no meio desta «rorschachfilia» e «rorschachfobia» encontram-se aqueles cuja posição é intermédia, podendo cair mais para um lado ou para o outro. A minha posição enquadra-se nesta linha média, mas no quadrante mais próximo do lado «fílico». Sem dúvida, sou um apreciador das grandes qualidades de poder analítico do Teste de Rorschach.
O seu princípio básico é quase evidente, de tão simples. O sujeito reestrutura as manchas seguindo os mesmos mecanismos com os quais estrutura a realidade. E com realidade pretendo designar todo o aparato de cognições que constituem o seu conhecimento: da realidade interna à realidade externa; do conhecimento de si ao conhecimento da alteridade. Embora a minha interpretação do Rorschach seja profundamente psicanalítica, penso que o paradigma da epistemologia cognitiva se adapta com natural perfeição a este caso, quando postula que o conhecimento é uma permanente construção. Assim, pretende-se que o sujeito construa a realidade das manchas com que se depara, num verdadeiro trabalho de pensamento cuja análise irá permitir perceber como, de resto, o sujeito estrutura a sua realidade lata. O Rorschach assume-se, então, como uma amostra de construção do conhecimento que, aliás, conserva os princípios de construção utilizados. Resta ao psicólogo descobrir e interpretar esses princípios para assim compreender a sua construção, assim como um geólogo infere os movimentos internos da litosfera ao analisar um estrato.
É legítimo colocar aqui uma questão: como se podem induzir com segurança os mecanismos de construção do conhecimento de uma entidade psicológica através da análise, por muito profunda que seja, de uma situação tão breve e insular? A isto também respondo: apesar de insólita, a situação-Rorschach é extremamente significante, pela simples razão de que se trata de uma fatia de vida, ou melhor, de uma fatia de construção. E é nesse estatuto que se encontra, por decifrar, o código de construção do indivíduo.
E como se devem descodificar esses princípios? Antes disso, quais são os princípios que regem o aparecimento da resposta-Rorschach? E como identificá-los? É aqui que termina a minha alusão à epistemologia cognitiva e entramos no âmbito da teoria psicanalítica. Porque estou convencido que uma actividade de construção como a da situação-Rorschach, onde a criatividade e a imaginação desempenham um papel fundamental, põe em jogo toda a vivência do indivíduo, integrando simultaneamente as dimensões cognitiva, afectiva e comportamental. Porque encontro na teoria psicanalítica uma riqueza de conteúdos e feixes interpretativos que não reconheço em nenhuma outra. E porque acredito nela.
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