Sob o estandarte daqueles que prosseguem (e ainda bem) os meandros da burocracia, do associativismo e da legislação democráticas os psicólogos portugueses caminham para a criação da sua Ordem, espera-se, no início de 2007.
A urgência da criação e estruturação definitivas deste organismo regulador revela-se pela necessidade, diz Telmo Baptista, de «regular a profissão para algumas questões como a boa prática profissional» (in Diário Digital – Agência Lusa). Sem dúvida. Mas o Presidente da Comissão Instaladora diz ainda que um dos grandes objectivos desta Ordem será o de «fazer com que os psicólogos sejam mais conhecidos enquanto profissionais e que sejam postos a trabalhar em prol da sociedade», e aqui reside, a meu ver, a maior necessidade dos psicólogos portugueses.
Se qualquer profissão apenas existe ou deve existir enquanto se revelar útil e instrumental para a sociedade na qual se encontra (chamemos a isto uma perspectiva sociológica funcional das profissões), a questão do seu conhecimento e/ou reconhecimento implica, por sua vez, um julgamento de qualidade e atributo que, inexoravelmente, a ultrapassa. Conhecemos variadas coisas, mas apenas reconhecemos aquilo ao qual atribuímos valor. Reconhecer implica, por assim dizer, um atributo de qualidade, um atestado de competência que confere estatuto, prestígio e idoneidade. Se o conhecimento da psicologia e dos psicólogos já não aparenta ser uma urgência fundamental (a proliferação dos seus assuntos e intervenções nos media e a criação de revistas e websites assim o parecem demonstrar), já o seu reconhecimento enquanto ciência do funcionamento mental e técnico especializado no seu saber, respectivamente, surge-nos como nuclear e imprescindível.
Uma das razões que se prende a este frágil reconhecimento da psicologia e da capacidade técnica do psicólogo assenta, precisamente, na sua fraca organização institucional, bem como na ausência de regulamentação e legislação aplicável que aprecie, afira e rectifique a sua prática. Além disso, a complexidade e plasticidade inolvidáveis da mente, que a põem presente em toda a actividade humana, tornam-na facilmente vulnerável a abordagens mais ou menos «alternativas», mais ou menos «para» («além» de qualquer coisa) – lembrando a metafísica pessoniana – que, não obstante a sua utilidade para muitos, obscurece e obnubila o campo de acção da psicologia, pondo em causa o seu objecto primordial.
Reside, pois, nesta Ordem que lentamente se afigura, a esperança e a expectativa de verdadeira ordem, o que não se espera fácil. Para o leitor atento, a própria história da psicologia deixa entrever as grandes dificuldades com que esta se deparou na sua afirmação epistemológica nos dois últimos séculos. Todavia, e sendo bem verdade que a era do positivismo acabou e que poucos actualmente partilham da mesma pedância de Auguste Comte, a qualidade do serviço do psicólogo emerge cada vez mais como uma premissa simultaneamente a atingir e a promover, ou melhor, a fazer conhecer e reconhecer.
A urgência da criação e estruturação definitivas deste organismo regulador revela-se pela necessidade, diz Telmo Baptista, de «regular a profissão para algumas questões como a boa prática profissional» (in Diário Digital – Agência Lusa). Sem dúvida. Mas o Presidente da Comissão Instaladora diz ainda que um dos grandes objectivos desta Ordem será o de «fazer com que os psicólogos sejam mais conhecidos enquanto profissionais e que sejam postos a trabalhar em prol da sociedade», e aqui reside, a meu ver, a maior necessidade dos psicólogos portugueses.
Se qualquer profissão apenas existe ou deve existir enquanto se revelar útil e instrumental para a sociedade na qual se encontra (chamemos a isto uma perspectiva sociológica funcional das profissões), a questão do seu conhecimento e/ou reconhecimento implica, por sua vez, um julgamento de qualidade e atributo que, inexoravelmente, a ultrapassa. Conhecemos variadas coisas, mas apenas reconhecemos aquilo ao qual atribuímos valor. Reconhecer implica, por assim dizer, um atributo de qualidade, um atestado de competência que confere estatuto, prestígio e idoneidade. Se o conhecimento da psicologia e dos psicólogos já não aparenta ser uma urgência fundamental (a proliferação dos seus assuntos e intervenções nos media e a criação de revistas e websites assim o parecem demonstrar), já o seu reconhecimento enquanto ciência do funcionamento mental e técnico especializado no seu saber, respectivamente, surge-nos como nuclear e imprescindível.
Uma das razões que se prende a este frágil reconhecimento da psicologia e da capacidade técnica do psicólogo assenta, precisamente, na sua fraca organização institucional, bem como na ausência de regulamentação e legislação aplicável que aprecie, afira e rectifique a sua prática. Além disso, a complexidade e plasticidade inolvidáveis da mente, que a põem presente em toda a actividade humana, tornam-na facilmente vulnerável a abordagens mais ou menos «alternativas», mais ou menos «para» («além» de qualquer coisa) – lembrando a metafísica pessoniana – que, não obstante a sua utilidade para muitos, obscurece e obnubila o campo de acção da psicologia, pondo em causa o seu objecto primordial.
Reside, pois, nesta Ordem que lentamente se afigura, a esperança e a expectativa de verdadeira ordem, o que não se espera fácil. Para o leitor atento, a própria história da psicologia deixa entrever as grandes dificuldades com que esta se deparou na sua afirmação epistemológica nos dois últimos séculos. Todavia, e sendo bem verdade que a era do positivismo acabou e que poucos actualmente partilham da mesma pedância de Auguste Comte, a qualidade do serviço do psicólogo emerge cada vez mais como uma premissa simultaneamente a atingir e a promover, ou melhor, a fazer conhecer e reconhecer.
2 comentários:
A vinda da Ordem é, sem dúvida, necessária mas, como tudo, é um 'pau de dois bicos'.
É urgente algo que venha regular a actividade da nossa classe profissional, mas tenho muitas dúvidas em relação às imposições: até agora vejo muitas promessas de deveres e nada de direitos.
Só espero que não venha aí mais uma Ordem dos Médicos cheia de lobbys onde se protegem uns aos outros, ignorando propositadamente os direitos dos lesados.
Prevejo que venha aí uma organização que vá dar muita dor de cabeça aos psicólogos que, pergunto-me, se será apropriada e assim tão necessária.
Talvez esteja a transmitir uma visão amarga da 'coisa', mas é somente resultado das muitas dúvidas que tenho. Quem acompanhou o longo percurso de luta para a criação da ordem, sabe que nos bastidores não há a mínima concordância entre as instituições envolvidas (SNP e APOP) o que dá um péssimo prognóstico pro arranque da Ordem. A começar assim não vão a lado algum.. enfim..
De facto não tinha conhecimento dessa discordância que realmente pode «encravar» muitas das tentativas de avanço da Ordem, mas não sejamos tão pessimistas;)...
Actualmente, qualquer instituição democrática funciona na dependência de dois pólos: aquele que governa e aquele que se opõe ao que governa. Se, por demasiadas vezes, se assiste a uma travagem da oposição de tal modo ilógica que não pode ter outro móbil senão a vontade de ascender ao poder, por outro lado a riqueza da democracia prende-se precisamente com a liberdade de expressão, de indignação e discordância. Caso isso aconteça desta forma nos bastidores da Ordem, é um processo normal e até frutífero (e vamos esperar que seja este)...
Quanto aos lobbys, bem... não acredito muito que, a existirem, sejam tão poderosos como o exemplo que referiste, pela simples razão de que uma qualquer Ordem dos Psicólogos não terá, pelo menos tão cedo, poder equivalente ou superior a uma Ordem dos Médicos, por várias razões, mas isso já é outra questão...
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