Em primeiro lugar, o que é necessário para duas pessoas se apaixonarem verdadeiramente? Há quem se apaixone por aquilo que precisa, ao encontrar uma pessoa que preenche as suas necessidades. Há quem se apaixone pelo que idealiza, quando encontra alguém que representa aquilo que se gostaria de ser um dia. No geral, encontra-se nos apaixonados uma base e um enquadramento comuns - valores, referências, interesses, objectivos, projectos - que, aliados à atracção e química física, constituem assim o terreno no qual a paixão e o amor nascem e crescem.
Mas porquê então a desconfiança? Efectivamente, há determinados pormenores nas pessoas que apenas observamos na sua presença física e «real». Mas por outro lado, a forma e o conteúdo do que se escreve num chat é muito elucidativa da pessoa. Como o são os trejeitos, os gestos, o tom musical e afectivo da voz que se podem ouvir e observar numa vídeo-conferência. Apesar de a interacção física se tornar - a partir de certo momento - fundamental, é bastante plausível considerar que é possível inferir muito conteúdo e significado através dos meios disponíveis online.
De facto, a Internet não é muito diferente da realidade na medida em que existem «locais» mais ou menos «credíveis» para se conhecer alguém. Da mesma maneira que é diferente conhecer alguém num jantar ou numa rave, é também diferente conhecer através de um blog minimamente idóneo ou através de um Hi5. Existem contextos diversos na Internet como existem na vida real, e é sabido que o contexto em que a relação começa tem um peso importante no seu desenvolvimento, pois veicula directa ou indirectamente os reais interesses de uma pessoa numa relação, não menosprezando o facto de que este valor é meramente preditivo.
Como tal, a Internet acaba por se demonstrar um sítio tão adequado como a vida real para conhecer pessoas. É apenas um instrumento, e como qualquer instrumento a sua acção depende inteiramente daquilo que fazemos dele.
É contudo bastante claro que é mais fácil dissimular e esconder através da Internet. No entanto, se as pessoas em causa forem minimamente idóneas e responsáveis, se os seus interesses forem minimamente adequados e não assentem numa base de promiscuidade, parece-me tão credível uma relação que tem por base um encontro virtual como um encontro real.
Em última análise, é o factor humano que faz a diferença. São as nossas próprias inclinações, desejos, interdições e projectos que guiam as nossas escolhas e, por consequência, o que delas advém.
(The Beatles)